É feriado. Comemora-se a liberdade. O homem está em casa e senta-se. O Homem pensa. Está no início do século vinte e um e olha para o que fez no século anterior. Abre o jornal que tem diante do seu braço direito, constatando entediado que as palavras que lá vinham continuam sem voz. Fecha os olhos e imagina que está para vir. Desenha-se-lhe um cenário que se afigura como possibilidade para o futuro, embora não goste de fazer tais previsões, uma vez que não passam de visões pré, antes, distorcidas, tendenciosas. E isto é uma previsão.
Agradar-lhe-ia a ideia de que alguns homens como ele fossem conduzidos para algures longe do sistema Terra, onde pudessem continuar com a vida que levavam no planeta que os fez; até imaginou uma grande mala, como aquelas dos filmes, com o que é importante: a política, a economia, as artes e as letras e as demais ciências. Não conseguiu conter a gargalhada. Até porque, se inicialmente simpatizava com tal ideia, agora parecia-lhe que roçava o ridículo, por não se tratar de uma resolução definitiva.
Agradar-lhe-ia a ideia de que alguns homens como ele fossem conduzidos para algures longe do sistema Terra, onde pudessem continuar com a vida que levavam no planeta que os fez; até imaginou uma grande mala, como aquelas dos filmes, com o que é importante: a política, a economia, as artes e as letras e as demais ciências. Não conseguiu conter a gargalhada. Até porque, se inicialmente simpatizava com tal ideia, agora parecia-lhe que roçava o ridículo, por não se tratar de uma resolução definitiva.

Se A desarranja B usando C, então A não pode utilizar C em mais lado nenhum. Foi-se a ideia da mala. Este raciocínio encheu-lhe as medidas e veio outra gargalhada. Encheu as medidas e encheu a barriga que estava a chamar por alimento. Um almoço de microondas em cinco minutos. Já reconfortado, pareceu-lhe clara a organização da sociedade num futuro próximo. Enquanto o povo servia os senhores, para estar protegido dos microondas gigantes, estes últimos brincavam com as máquinas, exibindo-as aos vários outros senhores existentes no Mundo, mas cada um no seu domínio. Uma espécie de dança nupcial, mas sem dança e sem núpcias. Tudo instantâneo nestas máquinas. Um clique e tau. Pareceu-lhe que, no limite, tal solução se oferecia como mais proveitosa que a vigente para os de baixo. E para os de cima, e para os que ligam com o que está ainda mais acima e que rezam para que os microondas não os comam a todos.
De volta ao sofá, veio-lhe à cabeça aquela célebre ideia da IV Guerra Mundial com os paus e as pedras, e com isto adormeceu, não resistindo à sonolência que a todos assola no início de tarde dos primeiros dias de primavera.
INTERIOR. DIA. Sala; luz solar oblíqua; pó no ar; último andar de um prédio nos arredores da cidade. Tinha a plena consciência do pesadelo que estava a ter. Era como se o pudesse controlar e, contudo, foi o clique e tau, o nada e a escuridão. A campainha da casa despertou-o da morte. Estava visivelmente perturbado. A luz aliviou-o. Abriu a porta. Uma sombra; uma ordem de despejo. Mas é feriado. Hoje recorda-se a liberdade; um clique e tau.
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