quinta-feira, 3 de junho de 2010

Abby

A casa respirava imponência. A porta branca abria-se e por trás dela, um hall quadrado dava as boas vindas a quem entrasse. Do lado direito, escadas em caracol até ao andar superior, corrimão em veludo encarnado. Enquanto se percorria o corredor, era inevitável reparar nas paredes repletas de quadros caros e de uns quantos candelabros. Na quarta porta à esquerda, sentado confortavelmente numa poltrona e de livro no colo, repousava o senhor da casa. Ao fundo, encostadas à parede de cal entre dez a quinze mulheres exibiam o seu corpo em lingerie. Algumas não disfarçavam o nervosismo de quem estava ali por diferentes razões, com diferentes objectivos.

Aquelas que se sentiam mais à vontade aproveitavam para provocar o senhor, piscando o olho de forma tentadora ou mordiscando o lábio. O Homem casou-se já quatro vezes mas não tinha herdeiros. Em conversas informais confessava que sentia que tinha nascido para aquilo, para singrar no complexo mundo da prostituição. Persuade raparigas de Leste, impingindo-lhes mentiras e promessas que nunca são cumpridas.

De volta à sala. Uma hora e vinte depois de terem entrado, mandou os seus seguranças acompanharem as mulheres à saída. Em fila, uma a uma saíam. Saíam todas menos a mulata que o tinha deixado curioso. Levantou-se, andou em círculo deixando-a indefesa no centro.
Disse: “Despe-te!”- ela sorriu matreira e desceu primeiro a alça esquerda do soutien, depois a segunda. Tirou-o e o homem admirou durante alguns segundos os seus mamilos. Levemente foi aproximando-se dele, passou a mão pelo corpo prestes a entrar em erupção e deixou-o em êxtase total. Então o Homem agarrou-a e tentou possuí-la. Preparado para lhe arrancar a parte de baixo da roupa interior, tocou o rabo da mulata que depressa se apressou a agarrar-lhe a mão e sussurrou-lhe ao ouvido: “Calma Charles, calma…”- empurrou-a e perguntou: “Como sabes tu o meu nome?”- sorriu da mesma forma de há momentos atrás e afirmou: “Conheço-te bem melhor do que és capaz de imaginar, querido. Nem sabes o quanto me esforcei para chegar aqui, para finalmente poder estar na tua presença. Achas mesmo que me ia envolver com um porco como tu se não tivesse um bom motivo?”- Charles começou a suar. Não estava a gostar de ouvir o que a mulata dizia. “Diz-me o teu nome, preta.”

“Abby Wayne. Tenho o mesmo apelido da mulher que violaste há mais de vinte anos. Que espancaste depois com medo que ela contasse a alguém. Essa mulher foi a mesma que me criou, que me aconchegava os lençóis antes de adormecer, que me beijava a testa todos os dias de manhã.” – Relembrou aquele momento, quando Margareth trabalhava para ele e numa noite fria em que tinha bebido a mais, a agarrou e a violou. Caiu em si e percebeu que tinha que a matar, não podia correr riscos. Tirou da gaveta uma Walter e com dois tiros, eliminou o perigo.

“Tenta compreender, eu errei mas ninguém podia saber de nada”- disse. Abby tirou da mala uma chave de fendas e saltou sobre ele. Prendeu-lhe o pescoço, cruzando as pernas e enquanto Charles se debatia e tentava libertar-se desferiu no pescoço gordo dele três golpes. Os braços deixaram de a tentar atingir. Deixou-o no chão, viu-o contorcer-se de dores e viu a sua alma abandonar o corpo dolorosamente. Não nega que sentiu um certo gozo. Tinha vingado a morte da sua mãe e nada, nem mesmo a consciência, a iam fazer sentir-se mal. Recolheu a arma do crime, e foi embora.

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