quarta-feira, 26 de maio de 2010

Metro

Para ser lido a preto-e-branco
Não ficou ninguém na estação para ouvir o metro desaparecer ao fundo do túnel. Permaneceu abandonada por um momento até que o seu silêncio foi cortado pelo eco duns sapatos que desceram as escadas sem pressa. O rapaz sentou-se num banco virado para a linha que seguia para Oeste e pousou a mochila no assento do lado. Estava sozinho.
Tão cinzenta, a estação, apesar das cores. Seguiu com o olhar os carris até que, sem dar por isso, deixou de os ver na completa escuridão do túnel que parecia não acabar. Absorto na profundidade em que procurava as luzes do metro, o tempo parou.

Quando voltou a si, já não estava sozinho. Na plataforma, mais pessoas aguardavam o metro. Do silêncio da contemplação depressa regressou ao ruído de fundo. Novamente anónimo.
– Então? – perguntou alguém, tocando-lhe no ombro. Virou-se para trás. Um velho, de casaco de lã. – Já não te lembras de mim, pois não?
– Não... Desculpe, mas não estou a reconhecê-lo.
– É natural... já se passaram tantos anos... na altura, davas-me por aqui – disse, apontando para os joelhos. Levantou a mochila do rapaz e sentou-se ao seu lado.
– Talvez pelo nome me lembre – sugeriu o jovem, um tanto constrangido.
– Conhecia o teu avô.
– O meu avô João? – perguntou, com alguma perplexidade.
– Sim. Há muitos anos que não o vejo, mas lembro-me bem de ti...
– O senhor trabalhou com ele no mercado?
– Não... Só o conheci mais tarde, mas tornámo-nos bons amigos. Ele tinha muito orgulho em ti, sabias? Quando eras pequeno, gostava muito de brincar contigo. Via-se que era feliz.
Ao ouvir o outro, a expressão do rapaz ficou mais grave. O velho continuou a evocar o passado até que reparou nas lágrimas que se formavam nos olhos do jovem. Ao notar a sua tristeza, interrompeu o seu discurso.
– O que se passa? – perguntou. O rapaz procurou disfarçar o choro, levando as mãos ao rosto, mas não conseguiu conter a mágoa. Abraçou o velho.
– Ele morreu no ano passado – soluçou com dificuldade. O homem apertou-o nos seus braços.
– Era um bom homem. E gostava muito de ti, não te esqueças disso. – ao ouvir isto, o rapaz chorou com mais intensidade.

Não disseram mais nada. Pouco depois, começou a ouvir-se o metro do fundo do túnel e as pessoas aproximaram-se da linha amarela. No tumulto da multidão que saía e entrava, o rapaz perdeu o velho de vista e, não o conseguindo encontrar na plataforma, decidiu procurá-lo dentro do transporte. A agitação acabou tão depressa como surgiu.
Não ficou ninguém para ouvir o metro desaparecer ao fundo do túnel. A pouco e pouco, a estação foi-se enchendo novamente. Uma mulher chegou e sentou-se num dos bancos.
– Então? – perguntou o velho, tocando-lhe no ombro. – Já não te lembras de mim, pois não?

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