sexta-feira, 21 de maio de 2010

sem título

Tenho os pulsos presos por uma corrente. Faço força para me libertar, mas não consigo. Sangue escorre das feridas e cobre outras manchas de sangue; sangue velho que parece ter secado há muito tempo.

Ando pela cidade à procura de qualquer coisa, ainda não sei do que se trata, por isso contemplo tudo com incerteza. Tenho a impressão que conheço estas ruas, mas não posso garantir.

Há qualquer coisa de suspeito na expressão das pessoas. Acho que me conhecem, mas não posso garantir.

Ajudem-me, ajudem-me, implora uma voz de criança vinda de trás do prédio. Detenho-me em frente ao beco, de onde ecoam as súplicas num grito cada vez mais estridente e desesperado. Ajudem-me. Ajudem-me. Ajudem-me.

Avanço lentamente para a voz até que a escuridão me cobre por completo. Mal consigo distinguir um rapaz deitado no chão, há pedras em cima do seu corpo. Por favor, senhor, ajude-me a sair daqui. Olho para trás, a rua está distante e as pessoas continuam a caminhar sem dar por nada. E se eu precisar de ajuda?

Ao percorrer a rua, há algo que me perturba. Poderá alguém ter-me visto?

Volto para trás à procura do beco, mas não o encontro. Começo a correr até ao fim da rua mas

estou novamente no beco. Ao perceber a criança deitada, viro-me e de repente

estou novamente no beco. Ajude-me, senhor, ajude-me a sair daqui. Esmagado pelos escombros, o rapaz estende o braço para mim.

Explico que não o posso ajudar, vê, tenho os pulsos presos por uma corrente. À sua frente, faço força para me libertar, mas não consigo. Vou chamar alguém, já venho. Não, não, grita ele, e se acontecer alguma coisa entretanto? Ajude-me a sair daqui.

Ajoelho-me no chão, perto do seu corpo. Não te consigo ajudar, rapaz, tenho os pulsos presos por uma corrente, mas ele não parece compreender e estende novamente o braço para mim.

Não, não. Vê. E mostro-lhe a corrente de ferro. Não posso. Vou chamar alguém para nos ajudar, já venho, e levanto-me. Começo a andar de costas, lentamente, mas o rapaz não tira os olhos de mim. Saberá ele que não pretendo voltar?

Começa a chorar e eu tenho pena dele mas os pulsos presos por uma corrente, vê, não te posso ajudar. Ele estende novamente o braço para mim, sem compreender.

NÃO POSSO AJUDAR. MESMO QUE QUISESSE, TENHO OS PULSOS PRESOS POR UMA CORRENTE, NÃO POSSO, e, ao exclamar isto, aproximo a corrente para que ele perceba e, ao fazê-lo, ele estende rapidamente o braço e agarra na corrente.

Não. Não. Deixa-me sair. Não te quero ajudar. Tenho os pulsos presos por uma corrente, vê, e estendo os braços à volta do seu pescoço.

Deixo-me estar assim por um momento até que ele

perde as forças e solta a corrente, deixando tombar a mão e, por fim, adormece no meu colo.

Os escombros desapareceram entretanto e vejo-me sentado com a cabeça do rapaz nos meus braços.

A corrente desapareceu entretanto e vejo-me sentado com a cabeça do rapaz nos meus braços.

O rapaz desapareceu entretanto e vejo-me sentado no beco sozinho

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